domingo, 10 de janeiro de 2010

Fobia da Rejeição

Toda a minha vida foi marcada por diferentes formas de rejeição.


Ainda não tinha nascido e já o destino me pregava uma partida. Comecei por ser logo rejeitada por um ser que me fez e mal assumiu. Deu um nome. Nome? Para que raio quero eu um nome que depois nem me quis dar efectivamente?! Para quê é que eu preciso de uma assinatura se nunca me quis, se nunca recebi afecto? Se mal me quis conhecer e preferiu esquecer-me como se isso pudesse apagar-me da história? Será que eu sou um lixo assim tão grande que nem um progenitor consegue conceber a ideia de me amar? Sem nunca ter tentado sequer?!

Possivelmente esta foi a rejeição que mais marcou a minha vida. Claro que nunca me faltou amor e tudo o que precisei da outra parte. Isso não está em causa. Mas será que nada em mim pode ser normal?!

Rejeitada na escola, por não pertencer ao grupo de riquinhos e porque justamente “não tinha pai!”. A crueldade das crianças pode ser monstruosa e só eu sei o que passei e ouvi ao longo de vários anos… mantendo apenas algumas supostas amizades baseadas em ideias que depois se demonstraram erradas e revelaram o quanto algumas pessoas são interesseiras…

Rejeitada na família. Não vamos ser totalmente mesquinhas e fazer de conta que eu não sei bem o que lhes passa na cabeça. Agradeço aos que tenho de agradecer. Mais nada.

Rejeitada na Banda, por não ser nada demais. Por apenas através do esforço e trabalho me “desenrascar” e por nunca assumir a posição (que tanto criticava) de queridinhos que diziam que sim a tudo!

Rejeitada enquanto catequista, por não ser o “normal”. Porque acima de tudo tentava transmitir valores e princípios. Por não suportar faltas de educação.

Rejeitada por alguns amores e desamores, por não ser o esperado, por ser como sou, por não cumprir os requisitos mínimos de beleza, sociabilidade e cultura…

Rejeitada por uma sociedade por tentar ir contra a maré, por não ir só porque os outros vão e tentar perceber ou encontrar algum sentido. Porque não quebro os meus princípios, fazendo todos os meios para alcançar os meus fins. Rejeitada pelo mundo porque simplesmente penso demasiado nas coisas, porque faço demasiadas perguntas.

Peço desculpas a todos, por não corresponder à vossas exigências e limites. Por ficar fora dos parâmetros de aceitação e por não mudar a minha maneira de ser só para ser aceite num mundo que não percebo nem concordo!

Por estas e por outras rejeições que virão, é que eu vou criando barreiras para me proteger. Cada vez mais esta fobia de ser rejeitada me obriga a pensar (ainda mais) nas coisas e talvez por isso chegue ainda mais rápido à desilusão, tornando-se um ciclo vicioso….



Rita

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

domingo, 27 de dezembro de 2009

cartas perdidas. (2)

“Meu querido,


Mais uma vez a saudade fala mais alto. Quem me dera sentir-te aqui comigo.

Não te pergunto o que sentes tu, sei a resposta.

Comigo, cá vou andando no meio da desilusão.

Não digo isto a chorar, mas digo magoada. Sabes bem do minha dificuldade em confiar nas pessoas e entregar-me a elas depois do que nos aconteceu. Tu percebes os meus traumas e receios. Pois bem. Voltou a acontecer. Numa altura em que eu pensava que tudo ia correr bem, que tudo ia finalmente ganhar sentido, porque ajudava-me a recuperar as forças de todas as batalhas, eis que me tiram o chão debaixo dos pés. Mais uma vez!

Não consigo percebe onde errei desta vez. Talvez nem tenha errado. Apenas me dei a conhecer melhor. Apenas mostrei quem sou e o resultado foi o esperado.

Nunca pensei que isto me afectasse tanto como afectou. Acho q acima de tudo foi a desilusão e o que tantas vezes acontece: tentarem-me fazer de parva. Para quê atirarem-me com poeira para os olhos? Para quê tentar enganar-me com falinhas mansas?! Sinceramente estou farta disso e o resultado é só um: nunca mais vou confiar em ninguém. Não vale a pena!

Sei que te prometi que ia tentar. E acredita, eu tentei, mas não aguento a desilusão e não quero mais isto.

Contigo eu sei que foi e se mais tempo tivéssemos, mais seria diferente. Tu percebias-me e conseguias ter total acesso ao meu verdadeiro ser, sem nunca me magoares ao fechar uma porta.

Desculpa por não conseguir.

Allexia”

domingo, 6 de dezembro de 2009

cartas perdidas

"Meu Querido….



A saudade que tenho de ti fazem-me escrever estas palavras a tremer…
Não pergunto como estás. Sei a resposta…

Eu cá vou andando, tentado sobreviver a cada dia, num sítio que não compreendo… observo, mas não compreendo! Talvez até aceite, mas há muita coisa que não consigo entender!
Esta vinda para aqui, para começar do zero uma vida que para mim perdeu rumo, não tem sido fácil… não sei se aguentarei muito tempo. Não prometo. Mas não quero falar mais disso…


Escrevo-te, hoje mais que nunca, porque tenho-me apercebido que o amor morreu! Não o nosso, claro! Mas à medida que vou falando com as pessoas, daquilo que tenho apreciado as pessoas já não amam. Não estão para perder tempo e paciência com isso… culpam o stress e a vida apressada. Tudo o que se quer é comida rápida e fácil. Roupa fácil e rápida de encontrar. Relações rápidas e fáceis! Basicamente tudo se resume a sexo. Já não se fala em “fazer amor”, já ninguém está para perder o seu precioso e egocêntrico tempo a pensar em alguém e em como fazer essa pessoa feliz. Ao que parece os romances ficaram todos pelos livros, para as histórias de princesas e príncipes montados em cavalos brancos… tudo ficou fechado em livros poeirentos que alguém esqueceu num sótão abandonado… talvez esta seja a evolução da sociedade, mas meu amor, estará certo? Será que ninguém percebe o quanto é bom sentir que se ama e é amado por alguém? Estaremos nós num mundo errado, meu bem? Sim, sem dúvida, estaremos!
Sabes, no fundo tenho pena destas pessoas, que nas suas vidas aceleradas não conseguem perceber a essência da vida. Não conseguem sentir toda a emoção traduzida num gesto de carinho, num abraço, num entrelaçar dos dedos… oh que gente esta que não compreende aquele sentimento de bem-querer, de abdicação completa de um “eu” em função de um “nós” muito mais enriquecido de vida e felicidade… esta mesma gente que nunca chorou por amor. Que nunca sentiu o friozinho na barriga só por estar na presença da cara metade… acho que estas pessoas não acreditam em cara-metade.
Não os condeno… apenas não percebo. Duvido que alguma vez alguma destas almas percebesse o nosso amor incondicional! Acho que eles é que perdem… porque se neste momento a minha vida acabasse, nada me faltaria, porque um dia amei-te!


Um beijo cheio de saudade.


Sempre tua,
Allexia"

transcrito por Rita

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Desilusão

Desilusão…


Sinónimo de desengano e decepção, não passa de um sentimento provocado pela ilusão e naquilo que infantilmente sonhamos ou sem qualquer tipo de racionalidade…

Talvez, eu seja demasiado inconsciente para acreditar nas pessoas… para pensar que as amizades fortes, também nos podem proteger e defender quando somos atacados.. oh que incosciente que eu sou…

Sou demasiado ingénua para achar que os nossos ídolos, não falham e não têm atitudes menos próprias…

Sou demasiado burra para não acreditar naquilo que os meus olhos e pensamentos me dizem… se eu sei que o que tenho não é o quero, não será melhor não ter???

Não sei…. Talvez um dia mude….

Rita

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Masmorras de Solidão

O trajecto descendente é pautado por curvas apertadas. A viagem é feita numa carrinha onde impera a des(ordem) das ferramentas. Sob um sol escaldante deixamos o vento invadir livremente o habitáculo. Com os cabelos desgrenhados assistimos à dança dos papéis. A fricção do vento e a música emanada pelo rádio concorrem desenfreadamente. Neste ambiente ou se tem uma voz de tenor ou nem vale a pena debitar palavras. Simplesmente são arrastadas pela fúria do vento ou misturadas e tornadas imperceptíveis com a letra da música.

O corpo contorce-se de forma involuntária num conflito permanente com a direcção tomada pela viatura.

Aqui e ali somos sobressaltados por um piso irregular e visivelmente deteriorado. Fruto por certo da passagem dos tempos, que por ali não circulam com regularidade carros.

Marionetas sujeitos as leis da física ou na perspectiva de alguns pelos desígnios superiores de um Senhor Misericordioso.

Finalmente avista-se a casa objecto da nossa demanda. À primeira vista assemelha-se as demais. Modesta é certo! Piso térreo de pintura aparentemente recente. Uma faixa inferior que rivaliza com os tons do céu, agora imperceptíveis pela imensidão transbordante de luz.

Suspenda-se a viagem e cumpra-se a missão – providenciar uma adequada recepção de um aparelho televisivo. Não é destino, nem uma vontade superior ditando preceitos, simplesmente um compromisso assumido. A tarefa é simples e o Velo de Ouro assumirá para a maioria a forma de meios de pagamento. Pessoalmente revelar-se-á profícuo em reflexões e amálgamas de sentimentos.

Saídos da carrinha e à medida que nos aproximamos da habitação é perceptível um ambiente imundo. Mas só quando atravessamos a porta de entrada e penetramos no seio da habitação, se torna possível percepcionar a magnitude da decadência. As palavras custam a pronunciar.

O odor nunca experimentado atinge-nos surpreendentemente. O ar contaminado revela-se assaz desagradável e a custo respirável. Prevendo ser inexpugnável somos compelidos, de forma quase instintiva, a abandonar aquele espaço. Mas perante a necessidade de permanência, ensaiam-se todo o tipo de estratégias de modo a contornar a situação.

Por fim colasse-nos os sapatos ao chão como um íman. Perscrutando a razão para a prisão deparamo-nos com um soalho onde parece radicar toda a espécie de impurezas. O desejo de sorver ar fresco apodera-se de forma incessante e crescente.

Mas simultaneamente não consigo desviar o olhar da senhora idosa que atenta de forma serena a televisão. Uma serenidade que deixa transparecer de forma simultânea sabedoria e demência.

As imagens vivas e coloridas sucedem-se em catadupa intermediadas com barras em tons de cinzento pela acção do meu colega.

Mas a tudo permanece insensível a idosa. Envolta numa praga de moscas em constante rodopio, permanece impávida como uma esfinge num estranho apaziguamento. O tempo perdeu importância. Há muito que deixou de acreditar num destino melhor. A frustração perante a impotência sobrepõe-se à vontade.

Mãe com uma vida tão só e triste. Aguarda pacientemente a morte porque sabe que nesta vida não terá mais alegrias.

Nelson

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Nelson...

Este post foi o primeiro do Chá de Morango. Devido ao Nelsito nunca mais se decidir a pronunciar sobre a minha pessoa, achei por bem retira-lo... Agora que fui definida de forma tão floreada e amável, creio que fica novamente descompassado e portanto apresento o Nelson.
(peço desculpa aos eventuais leitores deste blog, pela minha escrita ser tão básica e simplória.
Peço desculpas a ti, Nelsito, por mais uma vez não estar a altura do desafio.)


É para mim bastante difícil descrever alguém que conheço tão bem... parece que nenhuma palavra está suficientemente a altura do desafio... mas vamos lá tentar.... (Nelsito, caso não esteja do teu agrado e me queiras agredir, lembra-te de todas as nódoas negras que eu já te fiz!)... vamos lá então começar pelo principio:


Vizinhos em Fzz, vizinhos em Coimbra, alunos do mesmo curso, frequentadores dos mesmo locais e no entanto nem falávamos nem dávamos pela existência um do outro... com excepção das piscinas, em que eu fazia corridas com ele, sem este saber e mesmo assim perdia sempre (bolas!!!)...

Pouco a pouco fomos ganhando confiança, fomos ficando mais amigos e foi assim que eu conheci uma das pessoas mais sincera, mais bondosa e mais amiga deste universo..

As caracteristicas que acho relevante nesta personagem que o mundo ganharia muito em conhecer passam por um enorme coração (nunca vi uma pessoa a perdoar e aturar tanta coisa, e sempre como se nada fosse), alguém extremamente calmo (tão calmo, mas tão calmo que às vezes até me irrita), uma pessoa resiliente, inteligente, paciente, óptimo analista das situações, um exigente com o mundo, mas principalmente consigo próprio, um crítico que não deixa passar nada, um super colega, um amigo muito especial, um irmão para mim...

Amante de música clássica e com uma queda para a música argentina, sonha com o dia em que dançará bastante bem o tango...

Aprecia exposições de arte, lê poesia, e grandes obras...

Adora desporto, em especial natação, tennis e jogging (desportos que pratica)...

Aos olhos de quem esteja mais distante parece alguém calado, tímido e muito sério.. mas quem o conhece melhor sabe que é capaz das maiores loucuras e palermices em prol da diversão e de bons momentos passados entre amigos...

Como meu amigo, só lhe posso agradecer por estar comigo nas festas e comemorações, assim como nas tristezas, é nos momentos mais complicados... É alguém que marcou a minha vida e assistiu ao ponto de viragem e crescimento...

O Nelsito, além de meu companheiro de Chá de Morango, é das poucas pessoas em que entre nós o silencio não é incomodativo, muitas vezes nem precisamos de falar para saber como o outro está...

Em jeito de metáfora (e não da minha autoria), o Nelson pra mim é como um farol, que de terra me vai dando indicações e ajuda, para quando a tempestade não me deixa ver o meu caminho...

Sei que muitas coisas ficaram por dizer, nunca chegaria ao fim, mas desafio os eventuais leitores deste blog a compreenderem e conhecerem o meu amigo e fiel escudeiro, Nelson...

"Despeço-me com amizade"

Rita